Herodes, o Grande: o Rei que Transformou a Judeia Entre Glória e Controvérsia

Tempo de leitura: 6 min

em junho 13, 2025

Herodes, o Grande: o Rei que Transformou a Judeia Entre Glória e Controvérsia

Quando se fala em líderes controversos da Antiguidade, Herodes, o Grande ocupa lugar de destaque. Rei vassalo de Roma entre 37 a.C. e 4 a.C., ele foi ao mesmo tempo um político habilidoso, um grande construtor e um soberano acusado de crueldade. Seus feitos mudaram a paisagem da Judeia e ainda reverberam em debates teológicos, arqueológicos e turísticos.

Este artigo, aprofunda a trajetória desse monarca idumeu que deixou marcas tangíveis em Jerusalém, Cesaréia Marítima, Massada e além—e marcas simbólicas na narrativa cristã do “Massacre dos Inocentes”.

Contexto histórico: Judeia entre Império Romano e tradições judaicas

  • Incursão romana (63 a.C.): Pompeu anexou a região, encerrando a dinastia asmoneia.

  • Clientelismo imperial: Roma preferia governar por reis clientes, garantindo tributos e estabilidade.

  • Identidade complexa: Judeus, idumeus e helenistas disputavam poder cultural e religioso, cenário em que Herodes se moveu com destreza.

Origem e formação política de Herodes, o Grande

Filho de Antípatro, um idumeu aliado a Júlio César, Herodes nasceu por volta de 73 a.C. em Ascalão. Educou-se numa cultura híbrida:

  1. Idumeia: Influência árabe-edomita nas origens familiares.

  2. Helenismo: Filhelênico, falava grego e admirava a arquitetura clássica.

  3. Política romana: Recebeu o título de tetrarca da Galileia aos 25 anos, reprimindo rebeliões e ganhando fama de “amigo de Roma”.

Esse triplo DNA preparou o terreno para sua coroação pelo Senado em 40 a.C., à época em que Marco Antônio buscava conter vento de revolta na região.

A ascensão: da guerra civil à coroação

  • Rivalidade com Antígono II: Último asmoneu, depôs o irmão de Herodes, Fasael.

  • Cerco de Jerusalém (37 a.C.): Com auxílio de legiões romanas, Herodes tomou a capital.

  • Casamento estratégico: Uniu-se a Mariamne, princesa asmoneia, selando legitimação dinástica aos olhos dos judeus.

Consolidando poder: Alianças com Roma

Relação com Marco Antônio

Ofereceu tributos, suporte militar e hospitalidade em Qasr el-Abd.

Vínculo com Otaviano (Augusto)

Após Ácio (31 a.C.), Herodes trocou de lado com rapidez incomum, jurando lealdade a Augusto em Rodes. Resultado: Augusto manteve-o rei e ampliou suas fronteiras até a Traconítide e parte da Arábia Pétrea—prêmio pela fidelidade.

Política interna: impostos, segurança e paranoia

Herodes instituiu um sistema rígido de arrecadação para financiar megaproj­etos. Construiu fortalezas como Massada e Herodium para conter rebeliões e, dizem as fontes, alimentar seu medo constante de conspirações. Esse medo explodiu em atos brutais:

  • Execução de Mariamne (29 a.C.) e dos filhos Alexandre e Aristóbulo (7 a.C.).

  • Suposta ordem do Massacre dos Inocentes (relatada apenas em Mateus 2,16-18), refletindo a reputação sangrenta que circundava seu trono.

A Judeia em obras: Arquitetura como propaganda de poder

Segunda Ampliação do Templo (20 a.C.)

  • Plataforma esplanada: Dobrou a área do Monte do Templo.

  • Muralhas ciclópicas: Blocos de até 570 toneladas, ainda visíveis no Muro Ocidental.

  • Portões monumentais: Hulda, Dourado, Kiponos—canalizando milhares de peregrinos.

Cesaréia Marítima

  • Porto artificial (Sebastos) com concreto hidráulico inovador.

  • Anfiteatro, hipódromo e templo a Augusto: demonstração de devoção imperial e marketing econômico.

Palácios e fortalezas

  • Massada: Palácio de três níveis, banhos romanos e decadente sistema de cisternas.

  • Herodium: Mausoléu e palácio construídos em colina artificial—símbolo de autoglorificação.

Infraestrutura urbana

  • Aquedutos, estradas pavimentadas, mercados cobertos e ginásios em Samaria-Sebaste, Jericó e Tiro, integrando a Judeia na malha econômica mediterrânea.

Religião e identidade: equilíbrio delicado

Herodes, o Grande caminhava entre a fidelidade ao monoteísmo judaico e o desejo de agradar Roma. Embora jamais inserisse estátuas humanas no Templo, dedicou altares pagãos em Cesaréia. Isso gerou tensão com os fariseus e essênios, que criticavam sua helenização crescente.

Família, intriga e tragédia

A corte herodiana foi palco de dramas dignos de tragédias gregas:

  • Dinastia fraturada: Herodes teve dez esposas e ao menos 14 filhos, alimentando sucessões rivais.

  • Morte de Antípatro: Herdeiro primogênito executado dias antes da morte do rei, em 4 a.C.

  • Divisão do reino: Testamento final partilhou o território entre Arquelau, Antipas e Filipe—gerando instabilidade que levaria Roma a anexar a Judeia como província em 6 d.C.

Herodes e o cristianismo: o “Massacre dos Inocentes”

O Evangelho de Mateus narra que Herodes, temendo o “Rei dos Judeus” (Jesus), mandou matar meninos de até dois anos em Belém. Historiadores debatem a historicidade do evento:

  • Argumento a favor: condiz com o perfil paranoico do rei.

  • Argumento contra: ausência de referência em Flávio Josefo ou em cronistas romanos.
    De qualquer modo, o episódio perpetuou a imagem de tirano sanguinário na tradição cristã, tornando Herodes, o Grande arquétipo de governante ímpio.

Legado arqueológico e turístico

  • Descobertas recentes em Herodium parecem confirmar o túmulo real anunciado pelo arqueólogo Ehud Netzer (2007).

  • O Parque Nacional de Massada, Patrimônio Mundial da UNESCO, é visitado por quase 1 milhão/ano.

  • A esplanada do Templo, embora modificada, sustenta o Muro Ocidental, sagrado para o judaísmo.

O interesse acadêmico e a indústria do turismo religioso reforçam a centralidade de Herodes na identidade histórica de Israel/Palestina.

Avaliação historiográfica contemporânea

Os especialistas abandonaram leituras maniqueístas para enxergá-lo como produto de seu tempo—um mediador entre imperiais romanos, elites helenistas e a religião judaica.

Arqueólogos valorizam seu “renascimento herodiano” por elevar a Judeia ao padrão urbano romano. Por outro lado, teólogos e exegetas discutem o impacto de suas políticas sobre as seitas judaicas que floresceram no período do Segundo Templo, preparando o terreno cultural do cristianismo nascente.

Conclusão

Herodes, o Grande foi, paradoxalmente, um tirano e um visionário. Ergueu monumentos que moldaram a paisagem sagrada de Jerusalém, mas selou sua memória com histórias de sangue.

Navegando pela política de Roma e pela religiosidade judaica, ele deixou um legado que inspira arqueólogos, desafia historiadores e alimenta a tradição cristã.

Conhecer sua vida é compreender as tensões que fermentavam na Judeia do século I antes de Cristo—tensões que ecoaram na história do Ocidente.

Perguntas frequentes sobre Herodes, o Grande

Pergunta Resposta curta
Herodes era judeu? Tecnicamente idumeu, convertido ao judaísmo.
Quando reinou? 37 a.C.–4 a.C. sob suserania de Roma.
Qual sua obra mais famosa? A ampliação do Segundo Templo em Jerusalém.
Mandou matar bebês em Belém? Relayte bíblico; fontes seculares silenciam sobre o episódio.
Onde está sepultado? Provável mausoléu em Herodium, identificado em 2007.

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